
Os humanos têm transformado a Terra num planeta cada vez mais inabitável devido à poluição, às alterações climáticas e à perda de biodiversidade. Para garantir o futuro do Planeta, a ONU apelou ao mundo para “fazer as pazes com a natureza”.
O relatório “Fazer as pazes com a natureza”, divulgado pela Organização das Nações Unidas (ONU) e elaborado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), defende que o mundo tem de fazer mudanças dramáticas ao nível da sociedade, da economia e da vida quotidiana para garantir o futuro do planeta.
Ao contrário de anteriores relatórios que evitavam, por exemplo, apontar aos líderes mundiais as medidas necessárias e concretas a adotar, o documento divulgado esta quinta-feira faz uma análise interligada da crise ambiental (clima, biodiversidade e poluição) e indica de forma clara o que deve ser mudado no mundo. Uma mudança ao nível das tributações dos governos e na forma como os Estados valorizam a produção económica pode ser uma das soluções.
O relatório também defende alterações na forma como a energia é gerada e na maneira como as pessoas se deslocam, como praticam certas atividades económicas, como é o caso das pescas e da agricultura, ou mesmo como se alimentam.
Durante a apresentação do relatório, feita em conjunto com a diretora-executiva do PNUMA, Inger Andersen, António Guterres, secretário-geral da ONU, declarou que “sem a ajuda da natureza, não iremos prosperar ou mesmo sobreviver”. “Por muito tempo, temos travado uma guerra sem sentido e suicida contra a natureza. Chegou a hora de reavaliar e de redefinir a relação com a natureza”, reforçou Guterres, lamentando o facto de os governos internacionais “ainda estarem a pagar mais para explorar a natureza do que para protegê-la”.
Em termos globais, e segundo indicadores da ONU, os países gastam entre quatro e seis mil milhões de dólares por ano em subsídios que prejudicam o ambiente.
No entanto, as escolhas de todos nós são igualmente importantes. Cerca de dois terços das emissões globais de dióxido de carbono (CO2), por exemplo, estão direta ou indiretamente ligadas às famílias.
A diretora-executiva do PNUMA afirmou, por sua vez, que a atual crise da doença covid-19, ao mostrar como a saúde das pessoas e a natureza estão interligadas, “revelou a necessidade de uma mudança radical na forma como se vê e valoriza a natureza”.
Para Inger Andersen, esta reflexão no momento de tomar decisões, sejam pessoais ou políticas, pode “trazer uma mudança rápida e duradoura em direção à sustentabilidade para as pessoas e o ambiente”.
Em declarações à agência espanhola EFE, um dos autores do relatório, Robert Watson, frisou que “a situação é realmente urgente e as ações são muito necessárias, por isso o PNUMA quis expressar o problema de uma forma muito clara: os problemas ambientais estão interligados”.
“Os nossos filhos e os filhos deles vão herdar um mundo com acontecimentos climáticos extremos”, referiu o mesmo perito, enumerando “um aumento do nível do mar, uma perda drástica de plantas e de animais, uma insegurança alimentar e hídrica e um aumento da probabilidade de pandemias futuras”.
“A emergência é de facto mais profunda do que pensávamos há apenas alguns anos”, salientou o cientista.
Para Rachel Warren, coautora do documento, este novo relatório do PNUMA também tem o mérito de juntar “várias estatísticas assustadoras que não tinham sido realmente reunidas”.
É o caso, entre outros dados segundo Rachel Warren, dos nove milhões de pessoas que morrem todos os anos devido à poluição, de um milhão de espécies de plantas e de animais que estão ameaçadas de extinção ou das 400 milhões de toneladas de metais pesados, lamas tóxicas e de outros resíduos industriais que são lançadas anualmente nas águas a nível mundial.
Relatório disponível aqui.
Fonte: Lusa
19 de janeiro de 2021